domingo, 27 de julho de 2025

CÚPULA DOS POVOS * Internacional Antifascista Antiimperialista/VE

CÚPULA DOS POVOS

Cúpula dos Povos pela Paz reúne militantes de 80 países na Venezuela e fortalece aliança contra o imperialismo

Movimentos reforçaram importância da troca de experiências no enfrentamento ao fascismo e às expressões de violência

Evento contou com participação de militantes da Ásia, África, América Latina e Europa - Lorenzo Santiago/Brasil de Fato

A Cúpula dos Povos Pela Paz e Contra a Guerra foi realizada nesta sexta-feira (25) em Caracas e reuniu militantes de 80 países. Além do debate sobre a construção de ações efetivas para enfrentar as guerras e suas diversas faces, o evento também foi um momento de articulação internacional entre movimento populares da Ásia, África, América Latina e Europa, que compartilham lutas em comum, pautados, sobretudo, pelo enfrentamento e resistência às agressões imperialistas.

Para quem viajou à Venezuela, a troca de experiências foi o principal destaque. Ativistas de partidos progressistas, organizações de esquerda e sindicatos puderam debater estratégias e métodos usados em diferentes regiões para disputar a agenda em cada país. Esse é o caso de Igor Grabois, da Internacional Antifascista – Capítulo Brasil. Ele destacou a relevância da articulação neste momento, em que o imperialismo apresenta uma face cada vez mais violenta, mas, por outro lado, enfrenta uma contestação pela cooperação entre países do Sul Global.

“O imperialismo assume um caráter fascista e intervém na América Latina com personagens claros, como Javier Milei, Jair Bolsonaro, Nayib Bukele, personagens que precisam ser combatidos e derrotados. A tarefa dos povos é derrotar essa expressão fascista, garantir a paz e evitar a guerra. Mas essa paz é uma paz da transformação social, da melhoria das condições de vida, da construção de uma nova ordem multilateral que respeita a soberania e a amizade entre os povos”, disse ao Brasil de Fato.

Ele entende que os movimentos que participam desse encontro voltarão aos seus países com uma bagagem e um acúmulo que não tinham antes, se apropriando de outras formas de luta de diferentes espaços. O secretário-continental da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba) Movimentos, Giovani del Prete, concorda com essa ideia. Para ele, há um intercâmbio nas ferramentas usadas por cada movimento para garantir uma atuação não somente nacional, como também internacional das organizações.

“Essas organizações estão na linha de frente da resistência em seus países, e esse evento serve como uma troca de experiências e formas de resistência para poder fortalecer esses laços. É também uma oportunidade de encontro e fortalecimento do internacionalismo dos povos, de movimentos que têm traçado estratégias de enfrentamento à máquina de guerra que afeta o mundo inteiro. E podendo aprender um com o outro estabelecendo frentes de resistências não só nacionais como internacionais”, afirma.

A cúpula contou com três painéis. O encerramento foi feito pelo presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez. Ele reafirmou a importância de levantar a voz contra o “pior flagelo que a humanidade conheceu nos seus tempos: o fascismo”. O congressista, que também é psiquiatra, classificou os fascistas como “sociopatas” que usam a crise do sistema capitalista para avançar a violência contra os povos.

“A intenção e o objetivo do fascista, seja seu nome Adolf Hitler, Benjamin Netanyahu ou Nayid Bukele, é destruir a condição humana, daí a gravidade e a natureza profundamente patológica desses seres profundamente desprezíveis”, afirmou.

Rodríguez também mencionou a atuação de El Salvador na prisão de 252 venezuelanos presos nos Estados Unidos. De acordo com ele, o presidente Nayib Bukele criou campos de concentração no país que representaram a “banalidade da maldade”. Ele também defendeu a Palestina e disse que é preciso uma atuação contundente contra Israel.

Os militantes que participaram do evento também reforçaram a necessidade de defender a causa palestina ante os ataques militares. Para Del Prete, o Brasil também acaba colaborando com o Exército israelense por comprar armamentos de Tel Aviv.

“Aqui damos uma mensagem de solidariedade aos povos que estão em resistência. No Brasil isso tem a ver com a gente, as polícias militares compram armas de guerra israelenses para reprimir o nosso povo nas periferias, nos despejos, na repressão a movimentos”, lembra.
Outras dimensões da guerra

María Paula Giménez é psicóloga e diretora da Agência Nodal. Em sua fala, ela abordou as múltiplas dimensões das guerras, entre elas, a cibernética, com a disputa nas redes sociais e na internet, campo que tem sido explorado com êxito pela extrema direita.

“Eu acredito que há algo importante nas redes, de trocar, de mostrar solidariedade, de ter redes para tornar o trabalho do ativismo político diário muito mais fácil. Mas o poder se realiza nas ruas, com o povo, com a consciência com a qual, com o corpo, colaboramos, aprofundamos a construção dessa consciência, dessa capacidade de reflexão crítica, usando esta nova fase capitalista como instrumento para fortalecer nossa própria luta e lutar as batalhas que precisamos lutar”, afirmou.

Outra questão abordada pelos palestrantes é a omissão frente às violências. Para Orlando Tardencilla, ministro assessor da Presidência para Políticas e Relações Internacionais da Nicarágua, o silêncio deve ser interpretado como uma forma de cumplicidade, que envolve também a “traição aos princípios da humanidade”.

“O silêncio diante das invasões do imperialismo estrangeiro é uma responsabilidade que devemos assumir e combater. Evidentemente, a unidade dos povos, a unidade das forças de solidariedade, de fortalecimento, para alcançar a mais justa de todas as vitórias: pela liberdade e pela paz. Essa que seria — e que será — a melhor vitória para a humanidade: a liberdade”, afirmou.

A expressão das violências nos territórios não têm um impacto apenas atualmente, mas também deixou traumas ao longo do tempo. É o caso da Argentina Sara Mrad, uma das Mães da Praça de Maio, movimento de mães e avós que lutam pela memória e justiça de seus filhos e netos desaparecidos durante a ditadura militar. Ela participou do evento e disse que as mães tiveram que “romper o silêncio e impor a palavra com os corpos”.

“Somos nós que temos que colocar corpo nas palavras e nas lutas cotidianas. Temos que compartilhar as experiências para compartilhar as nossas ações. As palavras que não têm corpo não servem. Não se luta somente com as palavras”, ressalta a militante argentina.

Editado por: Geisa Marques

domingo, 13 de julho de 2025

Outro mundo está nascendo * Pedro Cesar Batista/DF

Outro mundo está nascendo
Pedro Cesar Batista*

A Internacional Antifascista e seus capítulos estão em processo de elaboração. Assim se faz a história, o livro da humanidade, com linhas tortas, marcadas em dor e sangue, também em largas avenidas, floridas, onde o povo dança, canta e festeja suas conquistas.

Cada período tem suas características, reflete a força das classes sociais, em suas contradições e conflitos. São séculos de resistência, perdas de seus melhores filhos, que entraram na eternidade como referências, mostraram que seus tempos, sejam em pequenos ou longos períodos, honraram cada gota de sangue, suor e lágrima derramados.

Os parágrafos se estendem em organização da classe trabalhadora, da juventude, mulheres, camponeses e povos originários, debatendo o melhor roteiro e caminho, tático e estratégico para melhor avançar na história, obter a clareza da compreensão e delineamento para a construção e obtenção de tempos mais iluminados, coerentes e justos, sem vacilação, nem divisão, nem imobilismo.

O passado mostrou que as ideias do apagamento de culturas, da eliminação em massa, com campos de concentração e genocídios, sem nenhuma clemência, mesmo com todos os registros, exalando odor da morte e extermínio, os perpetradores ainda seguem espalhados pelo mundo. Importa para as classes abastadas, colonizadoras e opressoras, garantir riquezas, retirar direitos, dividir o povo, atomizar suas lideranças, confundir e embaralhar mentes para mais controle terem sobre nações e mais ricos e poderosos ficarem. Como cães raivosos, babam o lodo do esgoto do tempo, os fascistas, nazistas e sionistas estão a espalhar mentiras e tentar impedir a resistência e avanço das lutas e conquistas da classe trabalhadora e dos povos.

Os períodos da história são o reflexo das lutas das classes organizadas. As glórias representadas pelas revoluções socialistas mostram que sempre se pode avançar na contrução da plena dignidade e emancipação da classe trabalhadora e dos povos.

Tentar impedir esse avanço tem sido comum no tempo, há períodos que os retrocessos se abatem e tentam impedir a história de avançar, mas os trabalhadores, em toda a sua diversidade e pluralidade, quando conscientes da necessária unidade e organização, recolocam no tempo histórico as forças da burguesia, os serviçais do imperialismo e controladores do capital.

Cada capítulo da história é escrito por quem faz a construção do tempo, com suas contradições dialécticas inerentes ao processo de desenvolvimento social. Escrever a história é o resultado da consciência, da compreensão política e firmeza ideológica, ao não permitir que o pensamento e a prática divisionista, o oportunismo e o sectarismo impeçam o fortalecimento das lutas e conquistas que vêm do passado, de períodos mais difíceis, que foram superados e os fascistas, nazistas e a burguesia foram derrotados. Vitórias da classe trabalhadora sempre existiram e continuaram a fazer a história avançar.

Neste tempo em que a tecnologia, controlada pelo imperialismo, monopoliza o sistema financeiro, a produção industrial e agrícola, a comunicação, tentando impor o pensamento único, com plataformas, bombas, ignorância, usando desde o velho discurso anticomunista até novos conceitos pós-modernos, as contradições entre trabalho e capital reafirmam a necessidade da unidade política e orgânica para derrotar as práticas do fascismo, nazismo e sionismo, como mostrado em períodos anteriores, onde o capital e seus mercenários foram derrotados e a classe trabalhadora avançou em suas conquistas.

Assim segue a linha vermelha da história, em suas trincheiras de ideias e combates, organizando -se em suas frentes de lutas, as quais se busca unir, organizar e mobilizar em cada capítulo, fortalecendo a defesa da soberania dos povos, a unidade revolucionária e a luta internacionalista para a conquista do socialismo.

Escrever cada período, organizar capítulos e fazer um tempo de justiça e paz somente pode ser obra da classe trabalhadora e dos povos, nada terá a capacidade de substituir essa poderosa força, que somente a unidade, organização, consciência e luta oferece.

A construção da Internacional Antifascista e seus capítulos pelos povos em todo o mundo é uma tarefa histórica, como lavrar o campo, semear o trigo, as rosas e ocupar as manhãs na efetiva e coletiva tarefa de quem vive do trabalho. Um outro mundo está nascendo, resultado das lutas e conquistas, nada impedirá o alvorecer desse novo tempo.
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* Pedro Cesar Batista, jornalista, escritor e poeta. Integra a Secretaria Executiva do Capítulo Brasil da Internacional Antifascista e o Comitê anti-imperialista general Abreu e Lima. Brasília - Brasil. Autor de Amar e combater, sempre é tempo (2025), Noite Longa (2024), João Batista, mártir da luta pela reforma agrária (2009) e Marcha interrompida (2006), entre outros.
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