A Internacional Antifascista e a Construção de um mundo novo
Diretor Internacional da FSM
Bogotá, 30 de novembro de 2024.
Na história da humanidade, os movimentos sociais têm desempenhado um papel crucial na transformação das estruturas políticas, económicas e culturais que determinam o destino das pessoas. Da dialética materialista, essa transformação não ocorre de forma isolada, mas como resultado das contradições inerentes aos sistemas que regem a sociedade. A Declaração Antifascista de Caracas, resultante do Encontro Mundial da Equipe de Promoção da Internacional Antifascista, oferece-nos uma plataforma para compreender e combater uma das manifestações mais destrutivas destas contradições: o fascismo, nas suas múltiplas formas.
Uma abordagem dialética
A luta antifascista, como qualquer esforço revolucionário, deve partir do concreto para chegar ao abstrato. Começa com o reconhecimento das formas visíveis de fascismo: a ocupação de territórios, a repressão de povos soberanos, as políticas xenófobas e misóginas e a censura ideológica. Estas expressões são sintomas de uma contradição mais profunda: a perpetuação de um sistema global que dá prioridade à acumulação de capital e à dominação imperialista em detrimento da justiça social e do respeito pela autodeterminação.
A Declaração de Caracas avança no sentido de uma compreensão mais complexa do problema. Reconhece que o fascismo não é apenas uma ideologia ou um regime político, mas um conjunto de práticas que permeiam as esferas económica, tecnológica, cultural e de comunicação. Neste sentido, a luta contra o fascismo passa por desmantelar as suas raízes no sistema capitalista, que o reproduz como mecanismo de controlo e opressão em tempos de crise.
Contradição como motor de mudança
Do ponto de vista dialético, as contradições não são apenas fontes de conflito, mas também oportunidades de mudança. A Declaração de Caracas assume esta lógica ao propor um bloco histórico de resistência antifascista, baseado na unidade dos povos do Sul Global. Este bloco não é homogéneo, mas sim diverso, integrando lutas dos trabalhadores, movimentos de libertação nacional, causas feministas e ambientais, entre outras. Ao articular estas lutas, a Internacional Antifascista transforma diferenças em força, promovendo uma práxis transformadora que enfrenta o inimigo comum.
Do diagnóstico à ação
Um aspecto central do materialismo dialético é a união entre teoria e prática. A Declaração de Caracas ultrapassa a fase de diagnóstico ao propor ações concretas: a criação de um Observatório Mundial contra o fascismo, a criação de um Secretariado Executivo em Caracas e a formação de redes internacionais de juristas, tecnólogos e educadores comprometidos com a causa antifascista. Estas iniciativas não procuram apenas resistir, mas construir um Novo Mundo, onde a vida e a dignidade humana sejam o centro.
Educação como Práxis Transformadora
Um dos pontos mais relevantes da Declaração é a ênfase na educação como ferramenta de transformação social. Ao conectar a universidade com as comunidades, propõe-se um modelo educativo que não só transmita conhecimentos, mas também forme sujeitos críticos, capazes de participar ativamente na construção de um mundo mais humano e justo.
A Dimensão Tecnológica e Comunicacional
Num contexto global dominado pelas redes digitais, a luta antifascista deve adaptar-se a novas formas de controlo e desinformação. A Declaração de Caracas identifica o desafio dos algoritmos e das plataformas controladas pelas empresas como uma frente fundamental na batalha ideológica. Ao promover um uso crítico das tecnologias emergentes, a Internacional Antifascista posiciona-se não apenas como uma resistência, mas como criadora de novas narrativas que desafiam a hegemonia cultural do imperialismo.
A Alternativa: Humanidade ou Fascismo
O grito final da Declaração, “Humanidade ou Fascismo!”, resume o dilema existencial que enfrenta a nossa época. A luta antifascista não é apenas política, mas profundamente ética e espiritual. Representa a escolha entre um mundo baseado na solidariedade, na justiça e na paz, ou um mundo marcado pela exploração, pelo ódio e pela destruição.
O resultado da Declaração Antifascista de Caracas oferece-nos uma bússola para navegar pelas complexidades do nosso tempo a partir de uma perspectiva dialética materialista. Ao partir do simples e avançar para o complexo, ao unir a teoria com a prática e ao transformar as contradições em motores de mudança, a Internacional Antifascista lança as bases para um Novo Mundo. Um mundo onde, finalmente, a humanidade prevaleça sobre o fascismo.
ANEXOS
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